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domingo, 29 de maio de 2016

Erro em objeto de cena na novela "Êta Mundo Bom"

Em abril desse ano eu fiz uma homenagem à novela Êta Mundo Bom, da Rede Globo de Televisão, batizando um padrão produzido pela Esberard de Mundo Bom.
Isto porque, pela primeira vez em uma produção de televisão, apareceu uma peça Carnival Glass como objeto cenográfico.
Era um vaso, brasileiro, que recebe o nome de Aztec Headdress e pode ser visto na publicação clicando aqui.

Essa semana, mais uma surpresa!
Outra peça Carnival Glass aparece em cena, dessa vez na casa das personagens dos atores Guilhermina Guinle e Flávio Tolezani.


A peça é uma compoteira de pé alto, conhecida por Lotus Blossom, na cor lime green, e produzida pela empresa americana Indiana Glass Co.


Seria mais um momento feliz em ver uma peça Carnival Glass na novela Êta Mundo Bom não fosse um detalhe...

A Novela Êta Mundo Bom é ambientada na cidade de São Paulo no final da década de 1940, início da década de 1950 e a Indiana produziu as Lotus Blossom somente a partir da década de 1970!

Um erro de produção de arte de pelo menos 20 anos!

Foto: Donna Adler

Eu já falei sobre Carnival Glass Contemporâneo aqui blog, mais precisamente sobre a produção contemporânea da Indiana que se estendeu até o final da década de 1980.

Até concordo que a Lotus Blossom pode ser confundida com uma peça de design art noveau, talvez por isso a produção de arte pode ter pensado se tratar de uma peça do início do século passado.

Mas não é. É uma peça com no máximo 45 anos.

E o maior problema que um erro desses pode gerar é que uma peça dessas acaba sendo vendida por negociadores por um preço muito além do que ela realmente vale, simplesmente pelo fato de aparecer em uma novela de época e por pensarem ser um objeto com quase um século de existência.

A foto da caixa de uma Lotus Blossom de 1970:


Foto Donna Adler

Por isso que eu sempre digo que quando se trata de Carnival Glass aqui no Brasil, é necessário ter muita cautela para não achar que todas as peças são da metade inicial do século passado e para não cometer erros, buscar informações é extremamente necessário.

Êta Mundo Bom é uma novela que eu gosto de acompanhar, simples, divertida, bem feita.
Mas infelizmente hoje, vou ter que dar um ponto negativo para ela...

Meus sinceros agradecimentos à expert em Carnival Glass e mais expert ainda em vidros da Indiana Glass Co., Donna Adler, por permitir o uso das imagens.

E para os que acompanham o blog, um grande abraço e até a próxima!

terça-feira, 10 de maio de 2016

Vallérysthal & Portieux X Esberard Rio (Atualizado: Marinha Grande e Radeberg)

Atenção!
Não deixe de ler a atualização de 08/07/2016!

Em maio de 2014 eu escrevi aqui no blog sobre a "cesta em vidro Chimères", padrão conhecido no Brasil como "Dragão", produzida pela francesa Portieux.



Com o tempo, comecei a encontrar muitas peças no padrão Chiméres sendo vendidas no Brasil.
Algumas com a marca Portieux gravada, outras não.

Comecei a achar estranho essa grande quantidade de peças, principalmente porque algumas eram em carnival glass e eu não conhecia registro algum de que a Portieux produziu vidro carnival.

Foto: Antiquário Simonetti

Comecei a desconfiar, voltei ao catálogo da Portieux de 1907, e o que eu encontrei acabou me deixando surpreso.

Mas antes, preciso agradecer as imagens fornecidas por Pamela Wessendorf do glas-musterbuch.de, Debi Raitz do OpenSalts.US, ao Antiquário Simonetti e aos meus queridos amigos Álvaro Aguiar e sua esposa Márcia.

Minha primeira descoberta foi sobre o padrão Iraci, um padrão comum de ser encontrado em peças brasileiras produzidas pela Esberard Rio.

Sempre acreditei que Iraci fosse criação brasileira, mas não, esse padrão aparece em várias peças da Vallérysthal & Portieux.

Uma travessa Iraci:


A travessa no catálogo de 1907, item número 3691:

Imagem: © glas-musterbuch.def

Várias peças Iraci, em carnival glass, e também nas cores cinza e verde. Reparem as duas compoteiras abertas:


No item 3491 temos a imagem da compoteira Iraci:

Imagem: © glas-musterbuch.de

Na página 215 do catálogo, o item 3390 parece ser um prato Rosarinho:

Imagem: © glas-musterbuch.de


Já na página 238, a manteigueira 3853 parece ser a mesma manteigueira que foi mostrada aqui no blog no mês passado:

Imagem: © glas-musterbuch.de

Foto: Álvaro Aguiar

Tudo leva a crer que a Esberard Rio Importou os moldes da Vallérysthal & Portieux.
A prova principal de que foi a Esberard quem produziu essas peças está no item 3981 do catálogo.
Uma concha que tanto pode ser uma petisqueira quanto uma saboneteira:

Imagem: © glas-musterbuch.de

Não é difícil encontrar essas conchas aqui no Brasil, e com um detalhe, elas vem com a marca Esberard Rio gravada.

Talvez essa gravação da marca nas peças da Esberard tenha sido influência da própria Portieux que também gravava o nome em algumas peças.






Resolvi batizar essas conchas de "Cabrália", em homenagem a Santa Cruz Cabrália, cidade próxima a Porto Seguro, Bahia, onde em 1500 o português Pedro Álvares Cabral aportou pela primeira vez no Brasil.

Já no catálogo de 1933 da Portieux aparecem duas peças interessantes.
A primeira é um porta fósforos, item número 7199:

Imagem: Debi Raitz

A outra é um paliteiro, item 7358:

Imagem: Pamela Wessendorf

Álvaro Aguiar me apresentou um paliteiro que, supostamente, era da Portieux.
Mesmo não sendo nenhuma das duas peças que aparecem no catálogo, é impossível não perceber a influência da Portieux nesse paliteiro possivelmente brasileiro.



A figura poderia ser um camponês de longas barbas, sentado em uma pedra, descansando por causa do peso do enorme cesto em suas costas.
Mas reparem que a base da peça parece ser um chão repleto de pepitas de ouro, portanto também poderia ser um duende recolhendo pepitas e as colocando dentro do cesto.

Independente do que seja, o Álvaro chama esse paliteiro de "Paliteiro Corcunda".

Achei o nome extremamente original, portanto é assim que ele será chamado, Paliteiro Corcunda.





Para nossa sorte e deleite, alguém dentro da Esberard gostava muito de carnival glass, e independente dos moldes serem brasileiros ou estrangeiros, temos peças que podem ser consideradas verdadeiras jóias.

Por hoje é isso!
E não esqueçam que para quem quer fazer uma procura rápida das minhas peças carnival glass, basta acessar o site Do Tempo do Guaraná de Rolha!

Atualizado em 17/05/2016

Carol Sumpter, editora do Carnival Glass Society descobriu que o nome original, usado pela Vallérysthal & Portieux, para o padrão Iraci era Orientale (Oriental).

Obrigado Carol por mais essa descoberta!

Aos poucos vamos desvendando os mistérios do Carnival Glass que encontramos no Brasil!

Atualizado em 08/07/2016

Os sempre mestres e experts em Carnival Glass, Glen e Stephen Thistlewood fizeram descobertas surpreendentes sobre as peças dessa publicação.

E aqui, vou relatar o que eles descobriram.

1 - Iraci

O padrão Iraci pode ter sido inspirado no padrão Normades, que aparece no catálogo da Vallérysthal & Portieux de 1894 e 1907 mas também pode ter sido inspirado no padrão que aparece no catálogo da portuguesa Marinha Grande de 1910.

Sim, eu disse "inspirado", pois provavelmente as peças brasileiras não foram feitas com o mesmo molde das estrangeiras, existem diferenças entre as peças tais como o fundo das travessas, que nas estrangeiras são mais trabalhadas; a altura dos leques nas bordas das peças que nas estrangeiras são mais altas; e o pé da compoteira aberta, a brasileira possui um anel próximo à base, e as estrangeiras não possuem esse anel.

Na verdade, as peças produzidas pela Marinha Grande e pela Vallérysthal & Portieux são muito mais parecidas entre si do que com as brasileiras.

Resta saber, qual das duas foi a primeira a produzir essas peças.

Para você ler o texto completo da Glen e do Stephen, clique aqui!

2 - Cabrália

Uma concha, produzida pela portuguesa Marinha Grande, aparece em um catálogo de 1901 com um detalhe, ela possui a mesma textura pontilhada que as Cabrálias produzidas pela Esberard.

Essa textura não aparece nas conchas feitas pela Portieux & Vallérysthal.

Mas o molde usado pela Marinha Grande provavelmente não é o mesmo usado pela Esberard.
Também é uma inspiração.
Um detalhe que eu pude notar é que na parte onde a concha brasileira aparece o nome Esberard, na portuguesa aparece um "leque" de três pétalas.

Mas é indiscutível que a concha Cabrália é muito mais semelhante com a concha portuguesa do que com a francesa.

E uma coisa eu posso dizer, fiquei imensamente feliz em ter escolhido o nome Cabrália para essa peça, pois o nome tem ligações entre Brasil e Portugal, assim como a fabricação da Esberard Rio com a fabricação da Marinha Grande.

Para ler o texto no site da Glen e do Stephen, clique aqui!

3- Corcunda

No catálogo de 1890 da empresa alemã Radeberg aparece uma peça muito parecida com o Paliteiro Corcunda brasileiro.
No catálogo ele é chamado de "Porta Ovo Gnomo".
Mas, novamente, é provável que a peça brasileira seja uma inspiração na peça alemã, pois elas apresentam algumas diferenças.

Para ver a explicação completa, clique aqui!

Com essas novas informações escrevemos mais um capítulo sobre o Carnival Glass produzido no Brasil.
E tenho absoluta certeza de que estamos apenas na ponta de um imenso iceberg.

Meus sinceros agradecimento a Glen e a Stephen pelo trabalho extremamente bem feito!